Terminei de ler o livro "locuções tradicionais do Brasil" de Câmara Cascudo onde ele fala da origem das nossas expressões populares. O tema sempre me interessou. Sempre tive curiosidade de saber como a fala do nossso povo foi se formando ao longo da sua história. Muitas expressões são usadas no Brasil inteiro, e como são muitas, selecionei para postar algumas que me são mais familiares, que ouvi mais enquantgo vivi no Nordeste e que por isso mesmo, até hoje, faz parte do meu vocabulário.
ORIGEM DAS EXPRESSÕES
1 - BEBEU ÁGUA DE CHOCALHO
O Nordeste de antigamente, tinha por tradição dar água de chocalho para as crianças que demovaravam a falar.
Pereira da Costa, em 1908 escrevia: "Para falar depressa, dá-se-lhe a beber das primeiras águas de janeiro, e não se deve absolutamente mostrá-la ao espelho, porque isso faz retardar-lhe a fala". Mais na frente continua ...dar-se-lhe água de chocalho, que com isso não só se consegue começar imediatamente a desenvolver essa faculdade, como ainda as crianças torna-se-ão verbosas e loquazes."
Daí se dizer de uma criança tagarela, que fala pelos cotovelos, que "bebeu água de cocalho".
2- CASA DA MÃE JOANA
Diz-se que um lugar é a Casa da Mãe Joana quando não há ordem, imperando a bagunça, onde todo mundo fala e faz o que quer, sem prestar satisfação a niniguém.
Este dito popular tem origem na Itália, do Reino de Nápoles, no século XIV, quando a rainha (e condessa de Provence) Joana assinou um decreto real liberando os bordeis na cidade de Avignon, na frança, onde estava refugiada. E mais: determinou que em cada um deles houvesse uma porta por onde todos pudessem entrar e sair ao bel prazer.
3 - DEIXAR DE NHENHENHÉM
A expressão tem o sentido de uma conversa interminável em tom de lamúria, irritante, monótona. Resmungo.
O vocábulo Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”
4 - NÃO ENTENDO PATAVINA
Isso significa que a pessoa não sabe nada sobre determinado assunto. Nada mesmo.
Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, na Itália), usava um latim horroroso, originário de sua região. Nem todos entendiam. Daí surgiu o Patavinismo, que originariamente significava não entender Tito Lívio, não entender patavina.
5 - COMER COM OS OLHOS
Soberanos da África Ocidental não consentiam testemunhas às suas refeições. Comiam sozinhos. Na Roma Antiga, uma cerimônia religiosa fúnebre consistia num banquete oferecido aos deuses em que ninguém tocava na comida. Apenas olhavam, “comendo com os olhos”. A propósito, o pesquisador Câmara Cascudo diz que certos olhares absorvem a substância vital dos alimentos. Hoje o ditado significa apreciar de longe, sem tocar.
6 - SANTINHA DO PAU OCO
Essa expressão se refere à pessoa que se faz de boazinha, mas não é. Nos séculos XVIII e XIX os contrabandistas de ouro, moedasd e pedras preciosas utilizavam esdtátuasd de santos ocas por dentro. O santo era "recheado" com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.
7 - PAGAR O PATO
A expressão deriva de um antigo jogo praticado em Portugal. Amarrava-se um pato a um poste eo jogador, em um cavalo, deveria passar rapidamente e arrancá-lo de uma só vez do poste. Quem perdia era quem pagava pelo animal sacrificado. Sendo assim, passou-se a empregar a expressão para representar situações nonde se paga por algo sem ter qualquer benefício em troca.
8 - ANDAR À TOA
Toa vem do inglês "tow" que é a corda usada por um barco para rebocar outro maior. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. à toa é algo feito sem esforço, sem importância.
9 - SUJEITO DA PÁ VIRADA
Um sujeito da pá virada pode tanto ser um aventureiro corajoso como um vadio.
A origem da expressão está na relação ao instrumento, a pá. Quando ela está virada para baixo, é inútil não serve para nada. Hoje em dia diz-se que uma pessoa é "da pá virada" quando tem maus instintos, é criadora de casos, ou aventureira.
10 - ISSO SÃO FAVAS CONTADAS
De acordo com o pesquisador Câmara Cascudo, antigamente, votavam-se com as favas brancas e pretas, significando sim ou não. Cada votante colocava o voto, ou seja, a fava, na urna. Depois vinha a apuração pela contagem dos grãos, sendo que quem tivesse o maior número de favas brancas estaria eleito. Atualmente, significa coisa certa, negócio seguro.
11 - VIU PASSARINHO VERDE?
Significa estar apaixonado. O passarinho em questão é uma espécie de periquito verde. Conta uma lenda que alguns românticos rapazes do século passado adestravam o bichinho para que ele levasse no bico uma carta de amor para a namorada. Assim, o casal de apaixonados tinha grandes chances de burlar a vigilância de um paizão ranzinza.
12 - À TOQUE DE CAIXA
A caixa é o corpo oco do tambor que foi levado para a Europa pelos mulçumanos. Como os exercícios militares eram acompanhados pelo som de tambores, dizia-se que os soldados marchavam "à toque de caixa".
Foi tradição portuguesa, em uma determinada época, escorraçar os indesejáveis de um local, como bêbados, indolentes, larápios, barulhentos à toque de caixa.
No Brasil a expressão refere-se a uma tarefa que se tem que fazer rapidamente, sem muito capricho ou responsabilidade.
13 - MARIA VAI COM AS OUTRAS
Dona Maria I, mãe de D. João VI (avó de D. Pedro I e bisavó de D. Pedro II), enlouqueceu de um dia para o outro . Declarada incapaz de governar, foi afastada do trono. Passou a viver recolhida e só era vista quando saía para caminhar a pé, escoltada por numerosas damas de companhia. Quando o povo via a rainha levada pelas damas nesse cortejo, costumava comentar: “Lá vai D. Maria com as outras”. Atualmente aplica-se a expressão a uma pessoa que não tem opinião e se deixa convencer com a maior facilidade.
14 - COMPRAR GATO POR LEBRE
A frase é comum no Brasil e foi trazida pelos portugueses. Para Cãmara Cascudo é "o engano na sua substituição dolosa". Em Coimbra do século XIX, foi famosa a caçada aos gatos para fins culinários. Outrora, durante os cercos militares às grandes cidades. o de Paris em1871, o gato era comida refinada. O caminho de perigrinação à Santiago de Compostela, conhecido como "caminho frâncês" tinha fama de vender gato por lebre: "em caminho francês / Dão gato por lebre ao freguês".
15 - SEM EIRA NEM BEIRA
Eira é um terreno de terra batida ou de cimento onde se estendem os grãos do centeio, do trigo, do milho que ficam ao ar livre para arejar, debulhar, malhar e limpar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o agricultor fica sem nada.
Nas aldeias portuguesas não ter eira é não ter posse em parte alguma no plano rural. " Sem eira nem beira" é o pobre miserável!
FONTE:
Locuções Tradicionais do Brasil - Luís da Câmara Cascudo - São Paulo - Editora Global / 2004.
FOTOS:
Imagens Google
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